Dizem os antigos que só a língua portuguesa é que tem uma
palavra que define esse sentimento, nas outras línguas é praticamente impossível
defini-lo apenas com uma palavra.
Sentimento que nos faz tudo menos sorrir, sentimento forte demais que permita a
um humano segurar sozinho. Era possível comparar esse sentimento a um furacão,
a uma tempestade, sentimento que vai bem para lá da simples dor, para lá da
tristeza, para lá da nostalgia, muito para lá da angústia. Sentimento que é
perito em criar golpes sem fundo, golpes que ninguém vê, golpes que nunca se
curam, golpes que passam a vida a abrir, camuflados pelos sorrisos falsos, camuflados
pelos pensamentos dispersos, mas nunca esquecidos. Dor? Não, não é dor, já
passou muito ao lado disso, este sentimento é responsável pelas mais sufocadas
lágrimas, pelos mais descontentes soluços, corrói, esmaga, esfaqueia, sentimento
que faz questão de carregar em todas as tuas feridas, obriga-as a sangrar de
novo, e de novo, e outra vez. Sentimento? Saudade.
Quem inventou o amor de certeza que nunca sentiu a saudade, mas quem inventou a
saudade sabia de cor o que era o amor. Na saudade todos nos torna-mos fracos.
Saudade não cresce, saudade aumenta, saudade não desaparece, saudade é
escondida, saudade não doí, saudade mata. Saudade? Saudade o coração não
suporta, saudade escorre gota a gota pelos olhos. Saudade? Como podes sentir
saudade se nunca amaste de verdade? A saudade consegue fazer com que te lembres
em pormenor de todos os sorrisos de quem sentes falta, todos os olhares, todos
os toques. A saudade faz-te sentir tudo isso de novo. Quem sente saudade tem
direito de falar do amor, mas que ninguém fale do amor se nunca sentiu saudade.